quinta-feira, 28 de abril de 2011

E se Totonha soubesse ler?





     O modo como Totonha, personagem do conto de Marcelino Freire, (In Contos Negreiros, pp79-81. Record, 2005) enxerga a realidade, revela ao  leitor  quanto o domínio da escrita e da leitura são insignificantes em sua vida.   Em suas necessidades cotidianas não há espaço para as letras, “Não quero aprender, dispenso. Deixa pra gente que é moço. Gente que tem ainda vontade de doutorar”. Mas, e se Totonha soubesse ler?  E se Totonha soubesse escrever? Será que encontraríamos na personagem tamanha conformidade e aceitação em relação ao que o meio lhe revela como sendo verdades incontestáveis? Que mudanças a alfabetização causaria à personagem que se revela sábia em sua realidade, mas carente de uma cultura acadêmica aos olhos de uma sociedade que se intitula culta?
     O homem, ser dotado de sapiência, curioso por natureza, vive uma eterna busca por novos conhecimentos, sua evolução esta relacionada à criação e transmissão desses saberes, que ao longo do desenvolvimento humano constituiu-se numa enorme caixa de ferramentas indispensáveis a vida humana.
       A oralidade por milhares de anos foi nossa principal fonte de transmissão do conhecimento, mas é limitada ao ponto que armazena na memória do individuo todas as experiências adquiridas ao longo de sua vida, e que se não for transmitido a outro, se perde ao término de sua existência.
       Umas das maiores criações do homem foi a escrita, ferramenta essa indispensável nas sociedades ditas modernas. Tal criação possibilitou ao homem armazenar, transmitir, trocar conhecimentos em grande escala. Os saberes registrados pela escrita não se limitam a existência do individuo, eles perpetuam através dos tempos em formas de placas de barro, papiros, livros, entre outras tecnologias criadas pela curiosidade humana. Através da escrita podemos mergulhar em mares distantes, nunca navegados em nosso humilde cotidiano, cujas fronteiras espaciais nos fazem acreditar que só existe um único oceano.
    Todavia se Totonha mergulhasse nos mares de saberes na qual submerge o mundo da escrita, certamente descobriria que existem sabedorias além do “...olhar na cara da pessoa...”.

Por: Antônio Martins

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